sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Metamorfose



Há palavras que devem ser ditas, reditas, bem ditas
Ainda que o poema seja proscrito
Amaldiçoado

Há uma legião imensa de criaturas
A morrer com fome de pão
E sede de Amor e água
Metamorfoseados em espectros
De
miséria e morte

Enquanto que a norte
A Humanidade, ou o que dela resta
Vive túrgida
Sobrealimentada
Anafada

Em permanente entrudo
Feito de nada e de tudo
Paródia
Ilusão
E vanglória

Lambuzada de vícios e guerras
Falsidades
Vaidades
Prepotência
Intolerância
Sexo
E escândalos sem nexo

Procuram a santidade alguns
É verdade
Poucos
Muito poucos
Quase nenhuns

Um dia porém
No tempo e espaço de cada um
Tudo acabará podre
Putrefacto
Feito em merda
Fase
derradeira
Da mais cruel e disforme metamorfose final

O mais belo corpo de mulher
Por mais sensual e doirado que seja
O mais caro perfume de Chanel
O mais poderoso ditador
O jacto privado do financeiro maior
O mais glorioso doutor
A obra poética mais festejada
Acabarão em nada
Espuma
de coisa nenhuma

Nem os ossos se aproveitarão para os cães roer
Transformados em cheiro nauseabundo
De cadáver a apodrecer
Escárnio e mal dizer
Esquecimento perdido no vento
Com muita sorte poderão retornar à vida
Convertidos em odor de futura rosa
Ou traque de prostituta indecorosa

E todas as bombas atómicas da Terra
Valerão menos que um foton perdido no Cosmos
Todas as alegrias e dores
Sorrisos e lamentos
Entrarão no esquecimento
Varridos da memória
Vazios de nada e de ninguém

Para os que não crêem na Alma
A vida não passa de uma mera perda de tempo
Ante a niilista metamorfose final


Eu que sou livre
E tenho o coração liberto
De deslumbramento e ambição
E não venero nenhum César da Terra
Ou outro mito qualquer
Qual gladiador a caminhar para a morte

Deixemo-nos de jactância e vaidade
Sejamos humildes
Cultivemos a Temperança
E a Amizade

Vamos viver com Felicidade